Por que tombam tão facilmente os veículos pesados?
Esse assunto rende sempre muita atenção pelas graves consequências pelo tombamento dos veículos pesados. Normalmente resultam em vítimas com ferimentos diversos e óbitos, dependendo da extensão do acidente. Além disso, os grandes prejuízos com a perda ou elevados danos no veículo, na carga e em outros veículos e patrimônios, quando envolvidos e ainda os problemas com a rodovia que muitas vezes são afetadas no pavimento, contenções e obras de arte.
AS CAUSAS MAIS EVIDENTES
A velocidade incompatível é sem dúvida um grande fator que leva a um tombamento. Normalmente os veículos pesados possuem o CG - Centro de Gravidade mais elevado e distante do assoalho e do pavimento. Isso reduz drasticamente a estabilidade do veículo, principalmente em curvas acentuadas ou extensas.
Veja na sequência de imagens a seguir um tombamento de uma carreta que transitava pela BR-116 Régis Bittencourt no trecho de São Paulo a Curitiba. A velocidade elevada para o local e a constância da curva vão "empurrando" tanto o cavalo mecânico como o semirreboque para o lado externo da curva. Assim, como se fosse um elástico, a pressão do peso deslocando-se lateralmente vai concentrando a energia de expansão através da chamada Força Centrífuga.
Dessa forma, estando a pista seca e áspera, a aderência e tração são muito grandes e por essa razão não permite a derrapagem do veículo, o que é muito bom para manter o veículo sob controle, mas nessa hora, a conjunção da força centrífuga mais o deslocamento do CG resultam na inclinação do veículo começando pela traseira da carreta. Assim que a roda traseira da carreta se ergue do pavimento, a sequência é que todas as demais rodas do mesmo lado acompanhem essa dinâmica e por fim, o tombamento implacável.
Observem a sequência nas 12 imagens:
Isso ocorre mais facilmente quando o centro de peso da carga é elevado. Por exemplo, nas figuras que se seguem, há três carretas baú sendo uma vazia, a segunda com carga e volume total e a terceira com carga pesada sem muito volume.
Vamos analisar cada uma delas na mesma curva e velocidade!
Qual das três carretas possui mais facilidade de tombamento?
A resposta seria a carreta 2 (do meio) carregada com 8.300 kg cuja carga embora leve, ocupa todo o espaço volumétrico, cerca de 100 m³. Devido a elevação da carga até o teto, o CG eleva-se e isso instabiliza a aderência nas curvas, mais do que as outras duas.
Em segundo lugar seria a carreta vazia que também tem o CG elevado porém com menor peso, não atinge o mesmo ponto da carreta 2, compensando pelo chassis e toda a estrutura inferior, incluindo as rodas.
E finalmente, a mais segura é número 3 com carga máxima em peso, porém com volume baixo. Toda a carga ocupa cerca de 90 cm de altura acima do assoalho e isso força o CG para manter-se mais rente por baixo e aumenta a segurança.
Repito que isso é válido para a mesma velocidade, no mesmo local em curva acentuada.
A Força G que empurra o veículo para fora da curva é medida em aparelhagem própria e conforme testes já realizados por especialistas, um carro de Fórmula 1 chega a ter 6G de resistência. Um automóvel de passeio, tipo hatch, cerca de 3,5 e um SUV 2,8 ou menos.
Um caminhão carregado 0,36
Observe quanta diferença de aplicação da força G o que faz o tombamento muito fácil. As recomendações persistentes são sempre lembradas que não basta seguir o limite da via. Numa rotatória por exemplo, um caminhão betoneira pode tombar a 25 km/h onde o limite é de 40 km/h. Ao entrar na rotatória e contornar 270 graus para alcançar a saída, o deslocamento progressivo do CG vai vencer a resistência dos pneus e com isso inclinar o veículo até tombar.
Nossos motoristas brasileiros, felizmente, na maioria não conhecem e operam nas rodovias dos Estados Unidos e Norte da Europa ou Norte da Ásia. Nesses locais a concentração dos fatores climáticos com o frio intenso provocam camadas de neve e gelo sobre as pistas tornando-as extremamente escorregadias. Nesses casos, não há diferenças entre automóveis, caminhões e ônibus. Todos deslizam incontrolados até atingirem alguma superfície porosa ou colidirem entre si ou algum obstáculo como barrancos, prédios ou guard rails. O mais perigoso não é a neve como muitos imaginam mas a camada de gelo que é praticamente invisível e muito mais lisa.
Veja em exemplo no vídeo abaixo
É comum em declives veículos deslizarem sozinhos ladeira abaixo independente de alguém ao volante, mesmo quando estacionados.
Em tese o motorista não cometeu infração, estava abaixo do limite mas, cometeu imprudência técnica em não reduzir drasticamente a velocidade antes de iniciar a rotatória.
Se essa possibilidade pode ter lhe surpreendido, imagine então uma operação de caminhão ou carreta basculante que pode tombar parado. Sim, isso mesmo. O veículo parado e ao erguer a caçamba para descarregamento, o veículo tomba para um dos lados pela simples razão do terreno ser desnivelado ou ceder pelo peso. Como a carga está muito elevada, o CG com um mínimo de deslocamento lateral é bastante para ocasionar um tombamento.
No vídeo abaixo uma rápida demonstração. Com o uso de um inclinador e um transferidor acoplado o o tombamento ocorre conforme a estabilidade da carreta. Nesse caso no vídeo a carreta estava vazia.
Ao colocar as cargas, conforme o tipo e altura o tombamento pode ocorrer com mais ou menos graus. Evidente que essa maquete é apenas uma ideia porque na realidade os veículos atuam com esforços dos pneus, da suspensão e das manobras.
Até o próximo post!
Obrigado pela leitura.
Thyrso Guilarducci
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